quinta-feira, 10 de dezembro de 2015


Encontro
Às seis horas da alvorada
E à tardinha
Lá estava ela,
Enrodilhando os cabelos
No alto da cabeça.
Todos os dias.
Impreterivelmente.
Olhando - se no velho espelho
Tomava à mão antigos grampos
encontrando o jeito certo de prende - los
em sua ventura.
Seu ar era silencioso...
Em que estaria pensando?
Talvez na lida da casa,
Em um favor prometido...
Ou em uma providência
Provedora,
Dessas de clarividência,
Que aquieta uma alma sofredora.
Sua tez era solene
Com ar de fidalguia,
Tão inerente às Lima:
Mulheres valentes
De sangue no olho
Do aracati ao camurim.
No coque,
A arte de cozinhar
E a experiência
de ser mãe e avó.
No ato de enrodilhar os cabelos,
O banho tomado,
Exalando cheiro de vó.
Ao término do ato
Punha-se na rede de corda a rezar:
Preces aos seus.
Era nessa hora
Que eu me aproximava.
Ela deixava - me chegar.
Eu sentava ao seu lado
na rede de corda...
Corda de tantos nós.
Nós de contar e de contos
Vovó começava a falar
Seus ditos e não-ditos
Sobre seus pais e irmãos.
Sua meninice
Seus parentes.
Seus filhos
Seus cuidados.
A tempestade e a bonança...
Eu posso ainda ouvir a sua voz.
Seu eco ecoa...
como um sussurro nesse instante.
É como uma epifania,
Uma manifestação inesperada,
Delicada e divina
a invadir - me.
Um regalo
Para meu espanto e encantamento!
Lise Mary Soares Souza
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6 comentários:
Lise, que belas palavras para falar desse encontro com a vó! E essa imagem dela enrodilhando o cabelo...
Lise, que belas palavras para falar desse encontro com a vó! E essa imagem dela enrodilhando o cabelo...
Muito interessante Lise! Adorei! Você é uma pessoa incrível!
Belíssimo poema! Sensível, tocante. Gostaria de tê-lo escrito...
Lucia :Porque guardou por tanto tempo uma obra tão linda ,tão real. Obrigada
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