domingo, 27 de março de 2016
Sina
Amor
da alegria,
do riso solto,
de philia:
Amor desenvolto.
Que incendeia o corpo
e aquieta a alma...
amor da conversa,
do convívio,
do sentir-se abençoado:
Vivo.
Amor de viajar...
de correr mundo
Com o olhar curioso.
Também de silencio,
Cônscio:
aconchegado, enroscado....
Amor do descanso,
do porto seguro
Em mar revolto.
Amor da escuta
ancorada em remanso.
Amor
desses de sina
sina dhármica,
sina de sorte:
Sina.
Lise Mary
quarta-feira, 9 de março de 2016
IMPRESSÕES
Pensar que o livro vem primeiro que a escola parece uma digressão tão óbvia, que não chamaria tanta atenção, não fosse exatamente por isso. O presente texto é resultado dessa provocação, desse pensar despretensioso, em que construo algo das primeiras impressões sobre a Educação. Não é possível pensá-la sem o ente que a precede: o livro.
Compreender que todos os livros são fruto de construções históricas, políticas, sociais, econômicas e ideológicas, é fato. Para além, entendê-lo como efeito de práticas discursivas, remete-me à pergunta sobre quem está por trás da obra. Quem é o autor e o que ele representa no universo geral da palavra historicamente dada?
Em conferência para os membros da sociedade francesa de filosofia, M. Foucault através do texto “Que é o autor?” explicita que trata-se da abertura de um espaço onde o sujeito que escreve não para de desaparecer. Para ele a produção do autor constitui o momento crucial da individualização na história das idéias, dos conhecimentos, das literaturas, e também na história das filosofias e das ciências. Dizer que uma narrativa tem um autor, ou que “isso foi escrito por fulano”, significa que trata-se de um discurso que deve ser recebido de uma determinada maneira, em uma determinada cultura e possuir certo estatuto, nos lembra Foucault.
Os autores da modernidade, contribuíram para erigir as bases das concepções sobre educação, como as temos nos dias atuais e a contemporaneidade termina por atravessar todas elas, dando-lhe um arcabouço desafiante e complexo.
Castro Alves em seu poema O Livro e a América, extraído da obra “Espumas Flutuantes” fala da presença das teorias iluministas que impulsionaram o desenvolvimento da modernidade, dos seus ícones e respectivos livros:
"Filhos do sec'lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou!...
“(...) Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto —
As almas buscam beber..."
Diante da grandeza do poema, que tão bem retrata as revoluções que principiaram as correntes de pensamento da modernidade, dou-me conta da complexidade do campo da educação e uma sensação curiosa me invade, como a de um descobridor português dos primeiros tempos.
O que dirá Rosseau, em seu Contrato Social sobre o que é ser homem ou cidadão? Sei algo sobre O Emílio e a infância que é, para Rousseau, uma categoria escolhida meticulosamente para operar o pensamento sobre a condição humana. Que descobertas me esperam no Contrato Social?
Augusto Comte cunhou as bases da positividade científica do conhecimento, onde os fatos científicos são baseados nos predicados observáveis das coisas, devendo ser também observações controláveis. Sua postulação da ordem como fenômeno básico da realidade e como valor supremo para a conduta, revela um conservadorismo que com certeza trará rebatimentos nas concepções sobre educação.
O que dizer de Charles Darwin e a sua ideia do evolucionismo social? Sempre quis ler esse livro. Um livro grande e volumoso, de capa dura, que insinuava-se a mim todas as vezes que ia a uma certa livraria. Agora ele se torna obrigatório: um ritual de passagem nessa jornada doutoral.
Marx, seu Manifesto Comunista e o Capital, são obras camaradas. Fruto maduro, pronto para comer em minha linha de pesquisa: Marxismo e Formação do Educador, do Programa de Doutorado em Educação da Universidade Estadual do Ceará.
Sobre aquele que dizem explicar tudo?
Sigmund Freud, esse sim companheiro de alcova, das minhas noites insones, das leituras intermináveis, por dever de ofício e cheias de lacunas, tal como Pênia e Poros citados no Banquete de Platão, cuja descrição da relação, resgata a idéia do encontro faltante e desejoso.
O que dizer da psicanálise e sua relação com a Educação? Lembro-me que Freud nos diz que existem 3 tarefas impossíveis: Educar, psicanalisar e governar, uma vez que a práxis de cada uma se dá em torno da palavra. Se a psicanalise parte da premissa de que qualquer comunicação tem por excelência o ruído e que o mal entendido não é contingente ou eventual e sim estrutural, compreender a educação nessa perspectiva, não seria transformar a impossibilidade em porta aberta para o estabelecimento do novo?
Albert Einstein criou a teoria da relatividade, da simultaneidade, revolucionando as concepções de espaço e tempo. Além disso, canalizou os primeiros estudos sobre a teoria quântica. Que pontes entre a teoria da relatividade e as concepções de educação poderão ser atravessadas nesse estudo?
Tantos outros autores e obras, múltiplos aspectos e perspectivas, da modernidade à contemporaneidade, todas elas articuladas a um projeto de conhecer a educação brasileira.
Leio novamente Castro Alves que me ajuda a descrever as sensações que tenho diante de tanto aprendizado que está por vir:
"Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe—que faz a palma,
É chuva—que faz o mar.
Vós, que o templo das idéias
Largo — abris às multidões,
P'ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse "rei dos ventos"
—Ginete dos pensamentos,
—Arauto da grande luz!.."
Lise
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sábado, 5 de março de 2016
Nossa Senhora da Boa Viagem
Igreja das minhas lembranças
O cântico entoado,
As vozes arcanjas,
Vibrando em trinado
Colhendo esperanças.
Igreja dos meus serafins,
Seu aroma presente
Nos morcegos, nas flores.
Igreja dos castiçais, dos andores,
Das ladainhas rezadas
Em terço sem fim.
Sua nave enfeitada
De flores do campo
Envolve em presença
Com seu sutil manto,
A Senhora da crença.
Igreja das minhas viagens
Do caminhar tranquilo
Espantando os medos,
Ampliando passagens
Revelando-me segredos.
Tantos casórios, batizados, velórios
Da minha família, pelo menos, alguns.
Compondo cenários promissários
De um tempo por vir.
Igreja das minhas lembranças.
Da avó em seu Jenoflexorio
Suas mantilhas, seus missais,
A fita azul... de filha de Maria
Lembrando - nos de rezar sempre
No início e ao final do dia.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Estação de Baturité
De tantas do mundo,
A estação da cidade.
O primeiro presente
Do imperador
Para o maciço.
O trem:a poesia
Em movimento.
Causou reboliço,
Barulho, fuxico.
Dividiu o trabalho,
Separou os homens
O algodão e o café.
Em baixo lacaios, peões
Em cima os chefes, barões.
Estação.
Grande estaca
aberta na mata.
Linha-tronco
Que se projeta
Cortando veredas
Unindo o povo e a terra.
Feita para Chegadas
E partidas
De um tempo remoto,
De gente louçã
Onde o que sobrou
So se sabe de ouvir contar.
Sobras...
Abertas em pedras
Inscritas nos eixos,
Nos bancos virados
Quando nao se quer encarar.
Vidas...
Riqueza conhecida
Oculta em paredes
Desnudas.
Expectativas.
Um pensar outro
Imemorial
De longinquos ancestrais.
Vozes guardadas
Em malas de viagem,
Soltas em bancos
Fragilizados pelo tempo.
Sino,
Gritando insistente,
lembrando aos passantes
A hora de passar.
Hoje
Dor mentes roubados,
Sussurros suados
escusos
Ali, atrás.
Vitrais desped(r)açados.
Ante o regalo...
Violenta-se
Com a mão
A arte do artesão.
Paixões escondidas
Nos muros...excita
Amores a vagar.
E a Vênus de Milo
Da roda dos amigos
da vida vivida,
Emudece ao olhar
O tempo de hoje
Bem triste...distante.
Que aos olhos andantes
Só restam contemplar.
Lise Souza
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Apresentar um poema, um escrito de alguém é algo da maior delicadeza...
Recebê-lo, algo da maior honra.
Publicizá-lo, uma oportunidade de fazer chegar ao outro, o humano em nós.
Pela primeira vez nesse blogger, Eduardo Quezado!

Anno domini
"Volta...
Antes que o outro venha em direção a mim
Antes que seja tarde para mudar o que foi feito...
Não é fácil não olhar pra trás
Quando se é esperança.
Sei que a direção dos meus olhos segue enganada
Nas idas que dou, sempre ignoro a verdade
Do outro que esmaga sem piedade
Meninos, meninas, solidão, esperança
de que ele volte e voltemos a ser crianças...
Um dia eu serei Ditador do tempo...
E direi: Chega! Devolva a minha ignorância!
A tristeza do brinquedo perdido
esquecida numa merenda no final da tarde...
...
Mas o tempo não tem ouvidos... nada...
Enquanto isso...
Mais um ano se foi...
E eu continuo aqui, parada...
Vivendo uma falsa esperança".
Eduardo Quezado
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